sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O Dom de Línguas


Atendendo ao pedido de um amigo, estou colocando hoje um resumo sobre o estudo referente ao DOM DE LÍNGUAS.
Uma análise mais aprofundada sobre a “evidência” do batismo com o Espírito Santo deixa claro que não há UM SINAL específico, único, que simbolize tal batismo.
O grande e verdadeiro SINAL é a vida transformada (cf. Gál. 5:22-23).
Relatos de recebimento do Espírito Santo, sem a menção de que falaram em línguasHá 9 passagens no livro de Atos que tratam sobre pessoas “cheias” do Espírito Santo, mas nenhuma delas fala do dom de línguas:4:8 - Pedro perante o Sinédrio4:31 - Igreja em oração pela libertação de Pedro6:3 - Escolha dos diáconos 6:5 - Descrição de Estêvão7:55 - Estêvão perante os líderes judaicos9:17 - Imposição de mãos sobre Paulo11:24- Descrição de Barnabé13.9 - Paulo perante Elimas13:52- Relato sobre os discípulos

O sinal do batismo no Espírito Santo
No Novo Testamento, a evidência do recebimento do Espírito não reside no fenômeno extático exterior, passível de enganosa imitação, mas na conversão do homem a Jesus Cristo, com seus respectivos frutos (Gálatas 5:22-26).
Quando ocorreu o dom de línguas no NT ele era como um sinal dentre outros. Este dom não veio como conseqüência de uma busca determinada, mas como surpresa (Atos 10:45). O dom não era esperado, exigido nem procurado, como fazem os pentecostais hoje.
Nosso máximo exemplo – Jesus – em nenhum momento do Seu ministério falou em “línguas estranhas” para provar que era cheio do Espírito.
O verdadeiro “sinal” da plenitude do Espírito na vida do crente é:Atos 2:42-47; 4:32-37 - Desprendimento, amor, comunhão, zelo pela obra do Senhor.Romanos 5:5-6 - Amor a Deus e a Seus filhos1João 5:2-3 - Obediência
O DOM DE LÍNGUAS E SUA NATUREZA
ATOS 2O Espírito Santo foi derramado no Pentecoste, e não antes, porque o ministério do Espírito não havia ainda sido iniciado (João 7:39; Atos 2:33). O ministério do Espírito só iniciou após a glorificação de Jesus como Vencedor sobre a morte.
Pedro estava naquela ocasião em um momento especial para a disseminação do Evangelho. Estavam em Jerusalém milhares de judeus vindos de diversas partes do mundo (v. 5), e aquela seria a ocasião propicia para falar de Jesus para eles. Mas como isso ocorreria, uma vez que eles falavam diferentes idiomas (vv. 6-11)?
Deus, então, dotou o apóstolo da capacidade sobrenatural de pregar o evangelho de uma maneira que todos os diferentes grupos linguísticos compreendessem e pudessem aceitar a mensagem. E foi o que aconteceu.
Pedro pregou e cada pessoa ali presente o ouviu falar em sua própria língua, ou seja, o dom concedido em Atos 2 não foi uma “língua estranha” ou “língua dos anjos”, incompreensível. Mas foi, sim, a capacidade de falar no idioma da pessoa que estava necessitando da mensagem de salvação. E qual foi o resultado? Veja no verso 41.
ATOS 10Deus já havia concedido a Pedro uma revelação sobre o preconceito religioso que ainda estava presente no coração dos judeus, inclusive dele próprio (Atos 10:9-16, 28).
Após receber a visita de pessoas enviadas por Cornélio, Pedro vai ter com ele, porém leva “alguns irmãos”, para servirem de testemunha da conversão do militar gentio (v. 23).Ao chegarem lá, Pedro compreende o significado da visão sobre o lençol, pois ele percebeu que a mensagem do evangelho deveria alcançar todas as pessoas, de todas as nações, independentemente de raças (vv. 28 e 34).
Após Pedro pregar sobre Jesus e confirmar a conversão do centurião, o Espírito desce sobre os que ouviam o apóstolo, deixando os discípulos judeus “admirados” (v. 44-45), pois viam Cornélio e outros falando em línguas, “engrandecendo a Deus” (v. 46). Imediatamente eles reconheceram que ali estavam pessoas féis a Deus, e concluíram a festa com o batismo de Cornélio nas águas.
O dom de línguas aqui serviu para quebrar o preconceito que os judeus tinham sobre a aceitação de gentios no Reino de Deus. Tanto é assim, que a Igreja da Judéia ficou querendo mais informações sobre o ocorrido (Atos 11:1-18), e Pedro teve a oportunidade de testemunhar do que ele havia visto com seus próprios olhos.
Como militar romano, Cornélio também poderia usar o dom de falar em outros idiomas para difundir a mensagem do evangelho em suas viagens pelo Império.
ATOS 19Paulo faz um breve questionamento aos discípulos que encontrou em Éfeso, e percebe que eles receberam um batismo “pobre”, pois não possuíam nenhum conhecimento sobre o Espírito Santo (Atos 19:1-3).
Paulo os orienta, acrescentando o ensino verdadeiro sobre a salvação em Jesus Cristo, e eles recebem o batismo no Espírito Santo, com a manifestação do dom de falar em línguas (v. 6).
Assim como no caso de Cornélio, o dom serviu para ajudar aqueles discípulos a pregarem o Evangelho naquela cidade, conhecida pela importância do seu porto, e pela grande passagem de pessoas de todas as regiões, e de outras nações também.
“Foram então batizados em nome de Jesus; e impondo-lhes Paulo as mãos, receberam também o batismo no Espírito Santo que os capacitou a falar as línguas de outras nações, e a profetizarem”. - Atos dos Apóstolos, p. 283.
1 CORÍNTIOS 14Em Coríntios, a língua não era “estranha”, mas um dom legítimo que precisava ser orientado.
O que é um dom espiritual? - Capacitação natural, dada por Deus aos salvos, para um objetivo útil da Igreja.O que é um talento? - Capacitação natural, recebida por herança ou adquirida por treinamento, podendo ser usado dentro ou fora da Igreja.
Os dons SEMPRE são concedidos pelo Espírito com um fim “proveitoso” para a Igreja (1Co 12:7; 1Co 14:12, 19). Portanto, o objetivo principal da concessão do dom é EDIFICAR, INSTRUIR e ORIENTAR a Igreja de Deus (Efésios 4:11-13).
No caso do dom de línguas, a condição para que ele seja útil é que possa ser COMPREENDIDO (1Co 14:6-11). Para a evangelização e edificação é necessário que os “sons” sejam compreensíveis. Isso deixa totalmente de fora as “línguas estranhas” que vemos nos movimentos pentecostais e carismáticos da atualidade.
Como é dito que, embora o que fala em línguas não seja entendido por ninguém, mas é dito que o que fala em outra língua se edifica a si mesmo, e que só pode haver edificação se houver entendimento, conclui-se que o que fala em línguas, fala uma língua estrangeira, porque os que falam as “línguas estranhas” atuais dizem sempre que não sabem o que estão falando. Já que o que fala se edifica (1Co 14:1-4), e portanto entende o que fala, então ele certamente fala em um idioma estrangeiro.
O que ocorre em 1Co 14 é o mesmo dom de Atos 2. O que estava havendo de errado era a desordem com que acontecia o dom, e a irreverência que isto causava ao culto. Por isso Paulo orienta a organização do dom (vv. 26-33, 39-40).
Os pentecostais dizem que o dom de línguas é uma “prova” perante a igreja de que determinado irmão foi “batizado” com o Espírito Santo. Neste caso, o dom seria um sinal para os crentes, o que está totalmente em desarmonia com o que Paulo afirma no verso 22.
Paulo também estava interessado em desvincular o culto cristão com o culto à deusa Cibele, que era realizado em Corinto, e que era caracterizado por grandes demonstrações de êxtase e transes.
ESTUDO DO TERMO GREGO USADO PARA “LÍNGUAS”
O estudo de uma palavra no seu original bíblico pode nos ajudar a esclarecer algumas dúvidas. A palavra grega utilizada para “línguas” é GLOSSA (de onde vem glossário, glossolalia, etc.). Em inúmeras passagens do Novo Testamento, esta palavra (ou suas variações) SEMPRE está vinculada ao idioma falado pelas pessoas e nações.Lucas 1:64; Atos 10:46; 1Ped. 3:10; Atos 2:26; Atos 19:6; Apoc. 13:7; Rom. 14:11; Rom. 3:13; Apoc. 14:6; 16:10; Filip. 2:11; 1Cor. 12:10, 28, 30; 1Jo 3:18; Tiago 3:5-6; 1Cor. 13:1; Marcos 7:33, 35; Atos 2:3-4; 1Cor. 14:5-6; 1Cor. 14:9; 1Cor. 13:8; 1Cor. 14:18, 23, 39; Apoc. 5:9; 1Cor. 14:22; Apoc. 10:11; Apoc. 7:9; 11:9; Apoc. 17:15; Lucas 16:24; Atos 2:4, 11; Marcos 16:17; 1Cor. 14:2, 4, 13-14, 19, 26-27; Tiago 1:26; 3:8.
Vejamos alguns dos versículos onde esta palavra ocorre:
Observe, especialmente, os que estão em destaque.
Não restam dúvidas, CONFORME O TEXTO BÍBLICO, de que o dom de línguas é uma manifestação sobrenatural para o crente falar em OUTRO IDIOMA ESTRANGEIRO, diferente do seu, para o qual ele não teve qualquer treinamento, com o ÚNICO objetivo de fazer avançar a pregação do evangelho, levando a Igreja de Deus a ser edificada e reconhecida. Portanto, o dom bíblico não tem NADA parecido com as manifestações emocionais e confusas que são observadas nas Igrejas Pentecostais de nossos dias.
Para quem deseja se aprofundar no assunto, sugiro a leitura do excelente livro do prof. Vanderlei Dorneles, Cristãos em busca do êxtase, publicado pela editora do UNASP.
Dê, também, uma lida nos seguintes materiais:
- Contraste entre o Pentecostalismo e os Pais da Igreja (Revista Kerigma - UNASP)
- O Dom de Línguas em Corinto (Revista Kerigma - UNASP)
Os Adventistas crêem na existência de TODOS os dons espirituais mencionados nas Escrituras, e crêem que o Espírito Santo nos dotará deles, na medida em que sua necessidade seja manifesta.

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